As Várias Dimensões de Maria - Parte 1
“O charme da história e sua lição enigmática consistem no fato de que, de tempos em tempos, nada muda e mesmo assim tudo é completamente diferente.”
(Aldous Huxley)
No segundo domingo de outubro, Belém do Pará comemora o Círio de Nazaré. Para muitos é o “Natal dos paraenses”. Cerca de 2 milhões de pessoas – segundo algumas estimativas – saem às ruas da metrópole da Amazônia para render devoção à Maria. É uma festa que já ganhou proporções e dimensões que desbordam do aspecto unicamente religioso, mexendo com a vida cultural, política e econômica do Estado.
No dia 12 de outubro, comemora-se o dia da “Padroeira do Brasil”. É a vez do Santuário de Aparecida, em São Paulo, ser invadido por uma multidão de devotos, vindos de todas as partes do país. Embora a Constituição Federal afirme que o Estado é laico, no referido dia é inclusive feriado nacional, para católicos e não católicos.
Em verdade, o culto mariano é um fenômeno mundial dentro do Catolicismo, que, a rigor, deve a este culto importante contenção da evasão de fiéis que se desgarram da Igreja rumo a outras religiões e crenças.
Diante de um fenômeno de grandes proporções como este e, de regra, mal explicado, resolvi colaborar com algumas informações visando lançar luzes esclarecedoras sobre o assunto, sem pretensão de esgotá-lo, porque muito rico e complexo.
Por que, como e quando Maria se tornou essa força poderosa dentro do Cristianismo? O atual culto à Maria sofreu influências de outros credos religiosos? Maria é a Mãe de Deus ou de Jesus? E os aspectos miraculosos da gravidez e nascimento de Jesus? Afinal, Jesus foi filho unigênito (único) ou primogênito (primeiro)? Qual a missão espiritual de Maria?
Essas entre outras questões serão abordadas em dois artigos, que trarão percepções e dados sobre aspectos históricos, antropológicos, psicológicos, exegéticos, religiosos, culturais, sociais e espirituais referentes à Maria, que compõem o que chamei de as várias dimensões de Maria. Por fim, registrarei a visão espírita sobre a mãe de Jesus.
Preliminarmente, cumpre anotar que tanto nos evangelhos canônicos como na literatura que vai até o século II, raras são as informações sobre Maria, que surgem a posteriori, em registros muitas vezes contraditórios, consignados em textos apócrifos. Dá-se a forte impressão de que Maria foi deliberadamente ocultada dos evangelhos. Mais que isso, talvez algumas informações tenham sido adaptadas às necessidades do Cristianismo Primitivo. Vale registrar, que todos os evangelhos só foram escritos décadas depois da morte de Jesus, quando o Cristianismo – então seita suburbana - engatinhava. Portanto, qualquer perfil de Maria é incompleto e só tem maior densidade se construído cruzando dados de diversas áreas do conhecimento, com cautela e sensatez.
Mas o que está por trás da ocultação e dos mistérios relativos à figura de Maria? Para entender, cumpre voltar no tempo e contextualizar a questão.
A vida da mãe de Jesus é envolta em polêmicas. Uma delas se refere à fecundação e virgindade de Maria. Tema sutil e passional, mas que traz importantes indícios que permitem aos estudiosos uma melhor compreensão quanto à gênese do culto mariano.
Mas afinal Maria concebeu virgem?
Em prelóquio, relevante destacar que narrativas sobre nascimentos sobrenaturais de personagens espirituais e mitológicos não são incomuns. Dentre os famosos filhos de virgens, destacam-se Crisna, Salivahana e Lao-Tse. A mãe de Buda foi fecundada, em sonho, por um elefante (que na tradição asiática representa pureza). Segundo a tradição mazdeana, a mãe de Zoroastro, o lendário legislador persa, foi penetrada por um raio divino. Na mitologia greco-romana, Atená nasce da cabeça de Zeus; Afrodite e Vênus nascem da espuma do mar, assim como Apolo, o herói Hércules, o Deus Mitra, entre tantos outros; na mitologia celta, o bardo Taliesin nasce de um grão e Merlin de uma virgem.
Deve-se ter presente que a virgindade à época de Jesus era muito apreciada e para melhor entender isso se deve retornar no tempo e buscar compreender o culto à Grande Deusa Mãe. Na pré-história, que se estendeu por milênios, havia verdadeiro culto ao sagrado feminino. Naquela época o homem desconhecia sua participação na fecundação. Pensava-se que o poder da vida estava com a mulher e, por isso, ela era ligação e a própria manifestação do divino, da pureza que, aos poucos, foi associada à virgindade. A partir do Neolítico, o homem descobriu sua importância na fecundação e houve progressiva perda de importância da mulher na sociedade, que se firmou como patriarcal, mas resíduos culturais que associavam pureza e virgindade atravessaram as gerações através, por exemplo, do paganismo.
Portanto, para nos aproximarmos da exata configuração do atual culto mariano, impõem-se voltar, novamente, ao momento em que o Cristianismo deixava de ser mera seita clandestina para tornar-se a religião oficial do Império Romano.
Ora, como Império, Roma dominava vários territórios com culturas diferentes. Mas, basicamente, sobrelevava-se o paganismo, que se caracterizava por diversos cultos pagãos a vários deuses, como os de Roma, da Grécia e do Egito, entre outros. Com o Concílio de Éfeso – que em 381 tornou o Cristianismo a religião oficial do Império – não se deu o fim automático do paganismo. Não se muda de uma hora para outra a crença de uma população. Muitos cultos permaneceram, templos funcionavam e expressiva parte de filósofos, advogados e da aristocracia romana ainda mantinha sua tradição pagã. Com o passar do tempo, muitos elementos pagãos se entronizaram na crença do Catolicismo nascente.
No livro Os Deuses eram Astronautas (Editora Nova Era), o pesquisador Erick Von Daniken explica que o culto a Maria como a “Mãe de Deus” não existia no início do Cristianismo e assim foi até o Concílio de Éfeso, em 431, quando por pressão de Roma – implantou-se o culto à Maria como “Mãe de Deus”. O objetivo era político. Como Éfeso era o centro do culto à Deusa Mãe Ártemis, quis-se atrair e unir em torno de Maria católicos e pagãos.
Há, portanto, no culto à Maria clara ligação com o culto à Deusa Mãe pagã ou Magna Mater, codinome também usado para identificar, contemporaneamente, Maria. Nisso, importante dizer, não há nenhum demérito. Vale explicar que o culto à Deusa Mãe era a veneração do sagrado feminino, enquanto expressão de pureza, fertilidade, prosperidade, proteção, tal como se dá hoje em relação ao culto mariano. O culto à Deusa Mãe foi, para muitos estudiosos, a primeira manifestação religiosa organizada da humanidade, o que liga, simbolicamente, Maria novamente ao ato criador puro.
Prova incontestável da relação entre tais cultos está justamente na liturgia, festas e sacramentos católicos. Veja-se que o culto a imagens, como a de Maria – inexistente no Cristianismo Primitivo – é de origem pagã. Rituais de iniciação e purificação, também têm gênese pagã e se transmudam, no Catolicismo, para ressurgirem como sacramentos. O culto a várias Nossas Senhoras – cada uma com poderes específicos - é, noutra roupagem, o culto às várias deusas que existia no paganismo.
Nisso, insisto, não há qualquer depreciação. Não se está aqui querendo diminuir o culto mariano, nem muito menos atacá-lo, o que seria abominável. Estamos apenas fazendo uma recomposição às origens históricas e religiosas do culto mariano, para podê-lo melhor compreender.
Ainda nessa perspectiva, muitas festas católicas dedicadas à Maria têm origem em festas similares pagãs e são comemoradas no mesmo dia de antigas festas pagãs. A festa da Candelária ou da Purificação da Santa Virgem tem como comemoração irmã a festa pré-cristã das luzes. As comemorações à Santa Brígida têm por referência a festa pagã de purificação chamada Imbolc, ofertada à deusa Brigit. A festa de Assunção ao Céu também conhecida como Dormição da Virgem era comemorada, na Palestina e Síria, no dia 15 de agosto, mesma data da comemoração da festa pagã oferecida à Hécate e à deusa romana Diana. A própria festa da natividade ou natal, que é comemorada no dia 25 de dezembro, coincide com a festa pagã do Sol Invictus ou da natividade do Deus do Mitraísmo.
Alguns ritos e costumes atuais parecem ter ligação com tais festas. Nas festas pagãs, eram comuns as procissões e, nestas, o uso de fogos e tochas, como ainda hoje se vê. O sacrifício físico também tem origem antiga. Já alguns termos usados em referência à Maria são um pouco mais jovens, embora nem tanto. Foi na Idade Média, por exemplo, que surgiu o costume de chamar Maria de Nossa Senhora. Na verdade, trata-se de uma criação da aristocracia feudal para elevar Maria – cujo nome remetia mais a simplicidade da dona de casa palestinense do que às damas cortesãs – à condição social mais respeitável aristocraticamente, surgindo daí as denominações de “Nossa Senhora” e “Madona”. Já a adjetivação de “Mãe de Misericórdia” surge, também na Idade Média, mas face os grandes períodos de sofrimento causados pela Guerra dos Cem Anos, pelo Cisma do Ocidente e pela peste negra que dizimou mais de um quinto da população européia. Foi nesse contexto de dor e consternação que cresceu o culto à Maria como “Mãe de Misericórdia”.
Feita esta recomposição antropológica e histórica, importa responder uma das mais intrigantes perguntas: o que faz Maria ser tão atraente à humanidade?
Nos últimos momentos de Jesus, ele reporta-se a Maria e a João dizendo (João 19:26,27): Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde àquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.”
A fala decodificada pode ser entendida como a eterna ligação entre mãe e filhos: humanidade. Ao pé da cruz, Maria vivenciou com sublimidade a maior dor que se pode sentir: a mãe que perde um filho. Ali, sensíveis à dor de Maria, estabeleceu-se um laço empático inquebrável, atemporal.
O culto ao feminino sempre esteve presente na humanidade e muitos são os motivos e maior é a quantidade de explicações a respeito. Shinners, na obra The Cut of Mary and Popular Belief, pg. 163, assinala:
“Os psicólogos junguianos atribuem a atração de Maria à necessidade coletiva da sociedade de expressar as imagens femininas e maternas arquétipos do inconsciente coletivo. Os freudianos vêem no culto a sublimação dos impulsos edipianos masculinos. Todas essas teorias fracassam por várias razões.”. Muitos estudiosos assinalam que o culto à Maria é versátil, adaptável às necessidades de cada época.
Arrisco anotar, em complemento, que o modelo cultural civilizacional impôs-nos a supremacia quase absoluta dos valores masculinos, tais como competitividade, força, rigidez, racionalidade, individualismo, entre tantos outros, que, no final das contas, fez-nos órfãos, frágeis, carentes. Por isso, o sagrado feminino sempre exerceu fascínio e atraiu a massa, que se comporta como um filho vulnerável, muitas vezes errante, que procura colo, compreensão, proteção, amor maternal.
Há, contudo, no âmbito do próprio Catolicismo um cuidado com o culto Mariano. A alta cúria católica já temeu que o culto à Maria se tornasse mais importante que a Jesus. É comum, inclusive, membros da alta cúria católica ressaltarem a importância de Jesus quando falam de Maria. Por isso, uma das discussões mais acaloradas do Concílio do Vaticano II foi definir o papel de Maria no Cristianismo: “co-redentora” ou “medianeira” entre as criaturas e Deus. O título de “co-criadora” provém de manifestações papais, notadamente de Pio X e Pio XI, enquanto o de “medianeira” surgiu na Encíclica Ad Diem Illum, no século XV.
Após apaixonados debates e votação apertada, a Igreja decidiu moldar sua crença para combater o que entendia ser distorções no culto mariano e desenhou Maria como auxiliar do Cristo, mas dependente deste e dele subordinada. A Igreja considerou Jesus o único mediador. Mas o desenho passivo e subordinado de Maria causou insatisfação nos movimentos femininos que lutavam pela dignidade da mulher, justamente contra essa percepção patriarcal. A nova face de Maria só foi revista após movimentos internos na Igreja como o da Teologia da Libertação, liderado pelo Frei Leonardo Boff, que aproximou Maria dos excluídos, dando-lhe uma conotação mais social, mais próxima dos dramas do cotidiano. Maria consolidou-se como medianeira.
Firmava-se, assim, ainda mais os laços entre Maria e a massa. Só quem já pôde vivenciar festas como o Círio de Nazaré pode entender o que Maria representa ao povo. Maria assumiu, sociológica e psicologicamente, o papel de mãe, a mãe das mães.
AS VÁRIAS DIMENSÕES DE MARIA – PARTE FINAL.
(Jacobi)
Como dito no artigo anterior, é difícil a reconstituição do perfil de Maria, seja pela falta de informações fidedignas a respeito, sejam pelas polêmicas que muitas vezes orbitam em torno do assunto. Alguns já foram abordados aqui, como o que se refere à maternidade de Maria, se mãe de Deus ou de Jesus?
Em verdade, Jesus não é Deus. Este o criador, Jesus a criatura. É um espírito de escol, puro, muito superior à média evolutiva da humanidade, mas não é Deus. Por ser muito superior e já dominar as potências do espírito, produziu fenômenos extraordinários, o que facilitou a consolidação da idéia no povo de que Jesus era Deus. A rigor, é um dos prepostos de Deus – o mais elevado na hierarquia espiritual que a Terra já recebeu -, encarregado pela evolução do planeta Terra. Foi justamente para alavancar sua missão, que Jesus encapsulou-se na matéria, sob a tutela de Maria, com quem já sabia poder contar.
Outra polêmica comum é se Jesus foi filho único. A Igreja na tradução evangélica fala em filho unigênito (único), enquanto outros exegetas traduzem como filho primogênito (primeiro). A resposta pode ser encontrada na Epístola aos Gálatas e no Evangelho de Marcos, onde as narrativas falam de irmãos de Jesus. Em verdade, há mais, nesta discussão secundária e pouco relevante, tabus e preconceitos nossos, do que qualquer desmerecimento à Maria. Aliás, paga a Igreja, neste particular, o preço por ter criado tanta culpa em relação a sexualidade humana que, por muitos séculos, foi associada a pecado, à impureza. Acaso a grandeza, altivez e superioridade espiritual de Maria fica “manchada” por ter dado luz a outras crianças? Claro que não.
São essas, entre outras, polêmicas que ainda provocam, pontualmente, exageros e radicalismos. Alguns irmãos evangélicos – minoria, é justo consignar - extremaram o discurso e incidentes lamentáveis aconteceram, como aquele no qual um religioso chutou uma imagem de Maria.
Outro dia, ao vivo, milhões de telespectadores puderam acompanhar outro episódio hostil, desta vez com desfecho pitoresco. Um religioso palestrava – repise-se: ao vivo em programa transmitido pela TV - dizendo que Nossa Senhora não tinha qualquer poder e que este cabia apenas a Jesus. _ Vou provar para todos que Maria não tem poder! Alardeou, descendo de seu púlpito em direção ao público. Querendo provar sua teoria, ele se aproxima de um fiel em transe mediúnico obsessivo, que se debatia no chão à vista de todos, e determina com autoridade e dedo em riste: _ Sai em nome de Maria! E repetiu solenemente: _ Eu te ordeno, sai em nome de Maria! Mais que rapidamente o espírito deixa o homem, que sai do transe mediúnico. Diante do desfecho inesperado, o religioso, constrangido e sem graça, lamenta baixinho, deixando-se flagrar pelo áudio: _ Esses espíritos fazem a gente passar cada vergonha...
Contudo, de um modo geral, Maria é reconhecida em sua grandeza por outras religiões. Tome-se, por exemplo, o Islamismo, que exalta sua elevação. O próprio protestantismo, na voz de Lutero, reconhecia a importância de Maria, contestando tão-somente algumas distorções. Com o Espiritismo não é diferente, reconhece-se a elevação de Maria.
No universo tudo evolui. Tudo. E todos devem contribuir para a evolução da obra divina.
Dotados de livre arbítrio, as populações dos orbes avançam em ritmos e rumos diferentes. Nos mundos menos evoluídos e mais materiais, como a Terra, a transição positiva de idéias, tradições e comportamentos é lenta. Por isso, espíritos de alta hierarquia espiritual descem dos cumes dimensionais mais evoluídos em missão sacrificial e de amor, aptos para resistirem à fornalha da carne, de suas tentações e desvios. Vêm dar testemunho e acelerar mudanças, lançando, também, sementes que aguardarão o momento propício para eclosão.
Mas, para que um espírito de altíssima graduação espiritual tenha sucesso sobre as dificuldades da matéria, impõe-se a conjugação de esforços de outros espíritos superiores que o antecedem para preparação do caminho, tal como o agricultor fertiliza a terra para receber a sutil semente grávida de vida.
Dentre todos os espíritos que conjugaram esforços para o êxito da missão de Jesus, Mirian ou - como conhecemos -, Maria foi, quiçá, a mais importante. Espírito de luz, anjo dócil de Deus, aceitou a missão de aninhar em seu útero e lar de amor, o espírito mais evoluído que este planeta já recebeu.
A missão para além de sacrificial – porque exigia a descida de uma dimensão superior -, era também arriscada. Mesmo diante de uma missão divina, as leis que regem a matéria devem ser respeitadas e delas não podem esquivar-se os espíritos evoluídos que, ficam assim, vulneráveis às vicissitudes próprias da carne. Quer isso dizer que Maria devia fazer, rigorosamente, sua parte. Um desvio do plano, poderia inviabilizar a redenção crística.
Maria deveria viver no mundo, mas sobrepairando-lhe, em plenitude divina, preparando seu corpo, sua mente e seu lar para ambientar a poderosa luz divina que se encarceraria na carne para romper o véu da matéria densa e anunciar, noutras letras e tons, a vida celeste.
Ao contrário do que alguns exegetas especulam, Jesus e Maria se relacionavam muito bem, mesmo porque ambos já conheciam o plano divino, apenas submerso no inconsciente de Jesus por causa da barreira material.
Pode-se perceber simbolicamente a importância de Maria nos estratégicos momentos da vida de Jesus, descritos nos Evangelhos. Ela aparece no nascimento e morte de Jesus – firme aos pés da cruz -, e quando ele revela ter despertado espiritualmente, ensinando no Templo ainda criança, bem como quando publicamente fez seu primeiro “milagre”.
No planejamento espiritual, cumpria postar espíritos colaboradores próximos a Jesus. Por isso, a providência divina também uniu Maria por laço de parentesco com Isabel, que já idosa engravidou e trouxe à carne outro espírito superior encarregado dos últimos preparativos para chegada do Cristo: João Batista – a voz que clamava no deserto -, que mais tarde o batizou e deu início à parte final de sua missão.
É, por certo, o encontro das duas mulheres grávidas, uma das mais belas passagens bíblicas do Novo Testamento, registrada por Lucas (1:39,48):
“E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá, e entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel, e aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo. E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto de teu ventre. E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte de meu Senhor lhe foram ditas. Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; Porque atentou na baixeza de sua serva; pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada.”
Como se pode notar, eis a passagem evangélica que dá base à oração conhecida por Ave Maria que, adaptada pelo Catolicismo, troca “Mãe de meu Senhor” por “Mãe de Deus.”, na versão de nossos irmãos.
Jesus encontrou na doçura, dedicação, bondade e altivez da mãe as condições necessárias para despertar, sem intervenções indevidas, todas as incomensuráveis potências de seu espírito puro, ainda então se recobrando do mergulho pesado, embotador e sofrível na carne.
E é assim que devemos devotar-nos a Maria, como espírito de luz, portadora de um amor que a blindou contra as dificuldades da carne, permitindo-lhe uma dedicação extrema, mas dócil e altiva, tudo em prol da missão do Cristo.
É justamente esta natureza dócil e amável de Maria, que a habilitou a capitanear um trabalho duro, áspero, incansável no plano espiritual. Através da sublime mediunidade de Yvonne A. Pereira, o espírito Camilo Cândido Botelho noticia no livro Memórias de um Suicida, que Maria coordena a Legião dos Servos de Maria, equipe de abnegados servidores espirituais que auxiliam os suicidas.
Só pode compreender a relevância da missão mariana quem conhece as dificuldades que os suicidas têm de enfrentar quando despertam no plano espiritual. Não por acaso a força do culto mariano em Belém, cidade que por muitos anos esteve entre as três cidades com maior índice de suicídio no Brasil. Exato dizer, portanto, que Maria tutela esta cidade, entre tantas outras.
Em verdade, Maria é o arrimo de muitos sofredores, é a esperança a muitos desesperados, é a mãe de muitos órfãos do sistema, é o colo dos infantes espirituais que de tropeço em tropeço caem e, no fundo do poço, sentem o calor maternal a acalentá-los, o amor incondicional a reanimá-los.
Chico Xavier tributava pública veneração à Maria. Certa vez, Chico estava triste. Perseguido, injustiçado, fatigado de tanto trabalhar pediu a Emmanuel, seu guia, que interpelasse a mãe de Cristo. Queria ouvir algo, uma mensagem de alento, uma palavra motivadora. Tempo depois Emmanuel reaparece e Chico, ansioso, questiona: Que tal Emmanuel? Falou com ela? Emmanuel confirmou. _ O que ela falou? _ Tudo passa Chico, tudo passa.
Afinal, quem não precisa desta mensagem consoladora?
http://visaoespirita.blogspot.com
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